Uma parada inesperada

12:41 PM

    - Vamos Ayla, vamos nos atrasar. 
    - Calma, Fêr. Ainda estou verificando se peguei tudo, você não quer que cheguemos no meio do caminho e eu tenho esquecido algo, não é ¿
    - O dinheiro esta na bolsa ¿
    - Sim.
    - Então vamos, é isso que queremos de você, o dinheiro.
    - Seu otário.
    - Eu sei. Agora podemos ir ¿ Todo mundo esta no carro te esperando, só falta você pra começarmos essa viagem.
      Eu não sei onde estava com a cabeça quando topei em viajar com meus amigos, eu os amo, claro, mas viajar todo mundo junto, algo me fazia sentir que não seria uma boa ideia. Erámos 5, eu, Fêr, André, Mari e Bella. Os 5 amigos mais legais do mundo. Minha relação com o Fêr nunca foi tão boa assim, sempre fomos amigos, mas amigos que se gostam, mas nenhum dos dois nunca quis admitir isso. Pelo menos eu tinha certeza do que sentia, ou achava que tinha certeza. Éramos amigos, isso era o que importava pra mim, e nada mais, eu não iria arriscar tudo por uma amizade.
      Quando entrei no carro, todos já estavam em seus lugares, e como sei que foi de propósito me colocaram para sentar no banco da frente. Isa e Gabi sempre foram minhas amigas por séculos, acho que elas me conhecem mais do que eu mesma, então mesmo que eu negue que não sinta nada, elas sabem muito bem, e sei que vão armar tudo nessa viagem para ver se alguma coisa acontece.
    - Todo mundo pronto ¿
    - SIM. – Todos gritaram em uníssono. 
    Eu nunca tinha viajado só com meus amigos, nada pelo menos tão organizado como essa viagem que levamos meses para programar. Ir para uma praia, curtir o mar, a cidade, descansar e claro, aproveitar a companhia do outro, já que faz tempo que não nos encontramos para jogar a conversa fora. 
    Como eu estava no banco da frente, foi eleita DJ do carro, o que era simplesmente um saco trocar de música toda hora.
    - Se vocês quiserem trocar de música levanta a bunda do banco e venha trocar, ou simplesmente deixem o CD rolar porque as músicas são boas. Eu não irei mais ficar trocando de música toda hora por que vocês querem.
    - UI, ta estressadinha hoje Ayla.
    - Vai se lascar, vai Fêr. Vai prestar atenção na estrada que você ganha mais.
    A cada música conhecida por todos o coro era inevitável, ficamos cantando e rindo por quase 1 hora. As músicas era lindas, e toda vez que passava alguma música  que eu gostava eu sentia o olhar do Fêr sobre mim, eu sabia que ele me olhava e isso acaba me deixando mais frustrada ainda. Éramos amigos, e ponto final. Mas a cada decisão que ele tomava sobre nossa amizade eu ficava ainda mais confusa, nos dois nunca conversamos sobre isso, conversamos muitos, menos sobre isso, ninguém queria dar o braço a torcer, ou era isso ou eu estaria confundindo tudo.
      - Preciso ir ao banheiro.
      - Eu também.
     - Ok, tem um posto logo ali, eu paro e vocês vão ao banheiro, mas vão rápido porque não quero pegar estrada a noite. 
      O posto de gasolina não era um dos melhores, os banheiros eram sujos e totalmente nojentos, mas a necessidade faz o animal, ou algo do tipo que um ditado desses dizem. Acompanhei Mari e Bella ao banheiro já que mulher nenhuma vai ao banheiro sozinha, e eu não queria ficar lá com os meninos.
     - Sim, o que foi aquilo no carro ¿ Conte tudo pra gente Ayla.
     - Contar tudo o que ¿ Não aconteceu nada no carro.
     - Não aconteceu ¿ Eu vi o jeito que você olhava para o Fêr quando tocava alguma música com a letra romântica, e o jeito que ele olhava pra você, principalmente quando você estava dormindo.
      - Ah, parem com isso. Ele estava normal. – Eu sabia que ele tinha olhado para mim no carro, mas não queria admitir, eu odiava admitir seja lá o que fosse, principalmente para minhas amigas.
      - Não fique vermelha com isso, nos sabemos que você ainda gosta dele. Você sempre gostou dele. E nos vamos te ajudar com isso tudo.
     - Vocês não irão fazer nada, eu não quero que vocês façam nada, entenderam ¿ NADA.
     - Ai, Ayla, você tem que ser mais selvagem as vezes. Desse jeito você não conseguirá nada na vida. Mas ok .
     Sair do banheiro com a sensação de que elas não iriam cumprir com a palavra, elas iriam aprontar alguma coisa, e que no final eu iria me lascar como sempre, porque no fundo o Fêr tinha uma ex mal resolvida, com quem sempre conversava, e conversa de ex mal resolvida resulta na volta.
     A noite ia caindo, e o nosso destino final parecia que nunca iria chegar. Eu estava feliz de estar ali com todos, mas já estava ficando cansada na viagem. Algumas horas depois, o Fêr parou o carro em um posto.
     - André, você aguentaria dirigir o resto da noite até chegarmos ou acha melhor domirmos aqui ¿
     - Olha cara, eu não aguento dirigir a noite não, e você esta cansado. Vamos dormir aqui, e amanhã de manhã eu dirijo até chegarmos lá.
      - O QUE ¿ Dormir aqui ¿ No meio do nada ¿ Nós não vinhemos preparadas pra isso.
      - Meninas, uma noite só não irá matar ninguém. E não se preocupem o Fred e o Jason já morreram. Mas quem sabe o lobisomen não bata na porta de vocês.
    - André, vai deixar seu amigo ogro falar comigo assim ¿
    - Calma Mari, vamos dormir juntos e nada vai acontecer com você.
     André e Mari estão juntos desde sempre, não consigo imaginar um sei o outro, sempre fazemos coisas juntos, o que as vezes é um saco ficar queimando vela, mas amo muitos os dois, e acabo acostumando com a situação.
    - Ok, eu vou ver se conseguimos um quarto pra dormir, a o André fica com vocês pra tirar alguma coisa do carro que vocês podem precisar.
     Enquanto o Fêr foi resolver o problema, eu peguei alguns kits para sobreviver a essa noite inexperada, uma roupa de dormir, escova de dente, escova de cabelo. Fim da história, eu não iria desarrumar minha mala inteira para passar uma noite em um hotelzinho de beira de estrada. Fêr não demorou muito para voltar, e estava com duas chaves na mão.
      - Bom, só tem 2 quartos disponíveis. Um com uma cama de casal e uma de solteiro, e o outro com uma cama de solteiro. Quem vai dormir aonde ¿ Meninos de um lado e meninas do outro ¿
      - Não, eu vou dormir com o André, e posso ficar com o quarto que tem uma cama de solteiro, e a Bella dorme comigo. E você se vira com a Ayla no outro quarto.
     - O QUE ¿
     - Não se preocupe se vocês só irão dormir, Ayla. – Mari me deu um abraço e sussurrou no meu ouvido. – Me agradeça depois. 
      Eu não estava acreditando que ela havia feito isso comigo, era injusto. Eu já estava super hiper nervosa com essa viagem porque teria que passar muito tempo ao lado dele, agora então, eu estava mais nervosa ainda.
      - Vamos ver se conseguimos colocar uma cama extra no quarto.
     Fomos até a recepção para ver se conseguíamos alguma coisa, mas, sem sucesso,aparentemente resolveram esgotar toda cama extra que tinha naquele hotelzinhjo de quinta. Eu não tinha opção, estava frio muito frio e eu não iria conseguir dormir no carro.
      Antes de entrar no quarto, Fêr me puxou pelo braço, e com aquele toque eu senti meu corpo inteiro ceder.
    - Hey, não tem motivo nenhum para isso ser estranho para gente, não é ¿ Somos amigos, e não tem porque dormir no mesmo quarto ser estranho.
    - Cla ... ro  que não. – Não era muito complicado esconder a minha vergonha já que senti minhas bochechas estavam queimando apesar do frio.
     O quarto não era grande, perto da porta havia uma televisão na parede, uma cama de casal em frente para a tv, algumas prateleiras, e uma porta que dava para o banheiro, que tinha apenas os itens básicos, vaso sanitário, pia, e um chuveiro.
      Enquanto o Fêr foi tomar banho, eu liguei a televisão para ver se passava algum filme legal, mas não obtivo êxito. O silêncio era melhor do que o barulho de um filme chato. Tudo começou a passar na minha cabeça naquele momento, coisas do tipo “ o que estou fazendo aqui ¿”, “ onde eu estava com a cabeça quando topei essa viagem “, “ eu vou dividir um quarto com Fêr”. Apesar de sermos bem amigos, nossa relação é muito elástica, um dia estamos brincando um com o outro, contando piada, rindo, no outro nem nos falamos direito, na verdade ele não fala comigo direito, eu não sei bem porque é assim, mas e já me acostumei com essas idas e vindas.
      - Ayla, não se preocupe, eu durmo no chão, e você fica com a cama.
      - Ok. – eu não tinha o que dizer, eu não sabia o que dizer. Na verdade, cada momento em que ele chegava perto de mim eu perdia completamente a fala, e tudo que saia da minha boca era monossílabas.
      Já se passavam das 10, e tínhamos que acordar cedo para pegar estrada. Fernando deitou no chão, e eu me afundei no cobertor na cama. 10 minutos de silêncio, e aquilo era constrangedor. Eu me virava de um lado para o outro, e me perguntava se ele estaria dormindo ou não.
     - Fêr ¿ Tá dormindo¿
     - Na verdade, não. Não estou conseguindo dormir.
     - Posso te perguntar uma coisa sem constrangimento ¿
    - Eu sou selvagem ¿
      - O que ¿¿ Como assim ¿
     - É que as meninas me falaram que eu tenho que ser mais selvagem em relação a garotos, e como somos amigos a tanto tempo, imagino que você me conheça e uma opinião masculina sobre o assunto seria legal.
     - Eu gosto de você assim do jeito que você é. Não ligue para o que elas falam.
     Eu voltei a deitar na cama, o silêncio voltou ao quarto.
     - Tá dormindo ¿
     - Não ...
    - Esta com frio ¿ 
    - Um pouco.
     E o silêncio volta.
    - Fêr ¿
     - Não estou dormindo. Fala .
    - Me sinto culpada. Você esta pagando o mesmo que eu, mas esta dormindo no chão.
    - É isso que os cavaleiros fazem.
    - Olha .. se você quiser ... pode ... ér .... dormir aqui ... na cama.
     Fêr se senta no tapete e olha pra mim com uma cara de dúvida.
    - Foi você mesmo que disse que éramos amigos e que isso não precisaria ser estranho. E eu não vou me sentir bem vendo você dormir no chão, e ainda mais nesse frio. Um lado da cama é meu, e o outro é seu, e pronto. 
      Eu estava surpresa com minha atitude, claro. Nunca que eu iria falar isso, mas simplesmente saiu. Eu não estava com segundas intenções com o Fêr, bem longe disso, eu realmente me sentia culpada por ele dormir no chão.  Ele pegou suas coisas do chão e deitou ao meu lado na cama, para não ficar tão estranho virei para um lado, para não ter que olhar para o rosto dele.
      - Ayla ¿ Acorda , acorda.
     - O que foi ¿ - Sinto as lágrimas correrem pelo meu rosto, e meu coração acelerar mais forte,
    - Você estava tendo um pesadelo.
     Fêr me abraça, e aos poucos meu coração começa a desacelerar pelo susto do pesadelo, a lágrimas começam a cessar. Fazia tempo que ele não me abraçava naquele jeito, e como eu sentia falta daquele abraço. Ele ficou ali do meu lado, até eu pegar no sono, e quando acordei ainda estávamos abraçados. Tentei sair da cama sem acordar ele, mas não obtive muito sucesso com isso.
    - Ei, bom dia. 
    - Bom dia. Eu vou ver se todo mundo já acordou e pagar o hotel para pegarmos logo a estrada.
    Enquanto ele foi lá, eu fui tomar um banho para despertar e aproveitar e pensar em tudo que aconteceu. Ok, não foi totalmente estranho, mas ainda assim eu não poderia deixar de pensar que dormimos abraçados, e não conseguiria ignorar isso de jeito nenhum, mas ele eu já não sabia.
      Ouço dois tocs na porta, e vou abrir correndo.
     - Eai, como foi ¿ Conte tudo.
    - Como foi o que ¿
    - Ué, a noite de vocês.
   - Dormimos, e pronto.
    - Só ¿
    - Não foi só isso, olha só Bella, ela esta ficando vermelha. O que você esta escondendo ¿
      Não tinha nada demais para contar, mas ainda assim contei tudo que aconteceu.
    - Então, ele não se aproveitou de você por estarem na mesma cama .
    - Não, ele nunca faria isso.
   - Mas ele é homem.
   - Mas ele não faria isso.
    - MENINAS, VAMOS. – André gritou lá de baixo. Era hora de ir, hora de pegar a estrada novamente.
      - E vocês já conversaram sobre dormirem abraçados¿
      - Não tem o que conversar.
     - Não tem ¿ Mesmo que não rolou nada, sei que você sentiu alguma coisa ao dormir abraçada com ele, você gosta dele, e isso não será muito fácil de ignorar. 
      - Eu lido com isso depois.
     - Você que sabe.
      Como era André que iria dirigindo o resto da viagem, Mari sentou no banco da frente.
     - Agora você verá o que eu sofri sendo DJ.
     Bella, sentou-se atrás de André, eu sentei no meio, e Fêr do meu lado. Desde a hora que acordamos não havíamos conversado exceto pelo seco bom dia, e eu estava extremamente nervosa por estar ao seu lado. Depois de alguns minutos em silêncio, eu decidi conversar para ver se tudo ficaria estranho entre nós dois.
      - Ei... sobre ontem a noite ... – Eu não sabia porque sempre que tinha que falar com ele, minha bochechas tinham que me entregar que eu estava nervosa.
      - Não precisa falar sobre isso, você já esta envergonhada o bastante.
     Ele riu, e olhou nos meus olhos, e naquele momento eu senti minhas bochechas ficarem mais vermelhas ainda.
    - Mas ... eu quero falar. Aquilo não foi dois amigos que se conhecem a anos dormindo juntos numa mesma cama. Não foi tão simples assim.
     - Eu sei, Ayla, eu sei. Não foi simples pra mim também.
    Não foi simples para ele ¿ O que será que ele queria dizer com aquilo ¿ Naquele momento eu não sabia, mas ele segurou minha mão, e olhou profundamente nos meus olhos, e riu. E a partir daquele momento eu sabia que teria a minha resposta naquela viagem.

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